Pesquisa mostra se o cabelo branco envelhece uma mulher (ou não)
A escritora Anne Kreamer analisou 500 respostas sobre a estimativa da idade de mulheres em sua versão grisalha e castanha.
Terminei de ler um livro da escritora e ex-vice-presidente do canal Nickelodeon, Anne Kreamer. Em inglês, o título é “Going gray — What I learned about beauty, sex, work, motherhood, authenticity, and everything else that really matters”.
Na minha tradução, o título seria algo como “Ficando grisalha — O que aprendi sobre beleza, sexo, trabalho, maternidade, autenticidade e tudo o que realmente importa”. Na tradução da Editora Globo, infelizmente, o título ficou “Meus cabelos estão ficando brancos — Mas eu me sinto mais poderosa do que nunca”.
Pensei mil vezes antes de comprar. Julguei o livro pela capa, pelo título, pela ilustração, por tudo. Como não encontrei outra opção sobre o assunto que parecesse interessante, encomendei um exemplar usado na Estante Virtual. Foi amor à primeira leitura? Não. Mas me diverti e gostei de algumas pesquisas e testes que Anne fez.
Não vou fazer uma resenha sobre o livro. Quero apenas contar sobre um experimento que a escritora fez com seis amigas — duas com cabelo naturalmente castanho, três que pintam o cabelo com cores artificiais, uma grisalha — e ela mesma, também grisalha.
O objetivo era tentar responder à seguinte questão: exatamente quanto o cabelo grisalho faz alguém parecer mais velha? Para isso, a fotografia de cada uma das sete mulheres foi alterada no Photoshop para ter uma versão com cabelo grisalho; outra com castanho.
Com as catorze imagens em mãos, Anne preparou um questionário com algumas perguntas, entre as quais “Que idade você daria para essa mulher?”.
Cerca de 500 pessoas responderam à pesquisa. Nenhuma delas viu as duas versões da mesma mulher — ou aparecia apenas a versão castanha; ou apenas a grisalha. O resultado surpreendeu até mesmo Anne.
A cor castanha no cabelo fez com que as mulheres parecessem, em média, três anos mais jovens. Na versão grisalha, os participantes praticamente acertaram a idade. Apenas uma das mulheres — Allison, de 31 anos — recebeu uma estimativa de idade mais alta do que a verdadeira. Mas isso também aconteceu com a sua imagem real e sem Photoshop, então acho que não vale, né?
O site da Anne tem as fotos usadas na pesquisa, junto com a idade real de cada uma e o resultado da idade média estimada nas duas versões. Escolhi essas quatro para ilustrar aqui e ficar mais fácil visualizar — se quiser ver mais, sugiro que você veja direto no site (e assim já prestigie o trabalho dela!).
Resumindo, o cabelo branco não envelheceu ninguém. No caso da Anne, ela tinha 49 anos na época. Com cabelo castanho, a estimativa de sua idade foi de 44,9 anos; com grisalho, 47,8.
“O cabelo grisalho não me fez parecer mais velha do que sou”, ela disse. “Apenas permitiu que as pessoas adivinhem minha idade verdadeira com um pouco mais de exatidão!”
Imagino que a pesquisa da Anne não possa ser chamada de pesquisa. Também acho que uma amostra de apenas sete mulheres é muito pequena — poderíamos acrescentar mulheres negras, mulheres com mais de 60 anos, mulheres com menos de 30, entre outras. O Photoshop também poderia ter versões com o cabelo branco menos homogêneo, menos “bem distribuído”.
Tem outra variável que seria legal investigar: eu devo ter um viés menor para achar que o grisalho envelhece, quando comparada a alguém que não convive com brancos na própria cabeça. Nosso olhar muda quando naturalizamos os grisalhos.
Nosso olhar também muda porque, na minha opinião, cabelo branco não tem o superpoder de envelhecer. Ele não muda o ano de nascimento de alguém, não gera rugas, nem flacidez na pele, nem qualquer outro “sinal” do tempo.
O que faz o cabelo branco passar a sensação de que envelhece é a nossa referência de beleza para mulheres, sempre associada à juventude. Por isso, o tingido parece rejuvenescer as mulheres. Mas isso não significa que o branco envelheça.
Ainda quero ouvir uma especialista para entender a origem do padrão feminino de beleza conectado à juventude — e descobrir se é possível mudar. Se eu puder dar um palpite, acredito que dê. É só lembrar todas as novidades da moda que achamos horrorosas quando são lançadas e, passados uns meses, estamos lá achando lindo e comprando.
Uma das coisas que me motiva a questionar o nosso olhar sobre a grisalhice é ver os comentários que um post da Patricia Reis (do Instagram @movimentogrisalha) recebeu ao trazer a seguinte provocação: “Cite uma frase abusiva que você já ouviu nessa jornada do pratear”.
Entre mais de 300 respostas, minha impressão é que mais da metade fala do envelhecer. Fiz uma seleção rápida de alguns (aqui dá para ler todos):
Dá muita vontade de mudar esse padrão. E ninguém precisa parar de pintar o cabelo para descobrir a beleza dos brancos. Basta começar a ver mulheres grisalhas ao redor. Aposto que logo elas ficarão tão charmosas quanto os homens grisalhos.
Um beijo,
Camila.
Para descobrir
Anne Kreamer escreveu o livro em 2007 — mal sabia ela que um dia teríamos filtros de Instagram para fazer isso instantaneamente. Adorei esse da Vanessa Iwata. São dez cores diferentes de cabelo, mas a branca é a mais legal, óbvio. Esse é o link para cair direto no filtro no Instagram — tem que abrir pelo celular e ter o app instalado. É só tocar na tela para mudar as cores. Quem testar, tira foto e me manda? 🤍
Para admirar
Algumas pessoas me enviaram um post do UOL com a técnica do “gray blending”. Tem só um porém: em momento algum a matéria cita que o cabelo resseca muito, mas muito mesmo. A australiana Luisa Dunn descoloriu o cabelo no final de 2019 e relatou no seu Instagram (está no Destaque “Hair Story”). Para ela, não foi bom. Por outro lado, conheço amigas que fizeram e dizem ter valido a pena. Não posso dizer “faça” ou “não faça” — só digo “avalie e converse com outras pessoas antes”. Enquanto isso, admire essa foto abaixo da Luisa, que agora já está com seus próprios fios brancos e naturais.
Para pensar
“Se engana quem acredita que só porque a mudança é na aparência dos fios, que seja algo superficial. Para a mudança acontecer aqui fora, houve primeiro uma enorme e significativa transformação aqui dentro.” — Ana Fonte, atriz
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Continuo com o mesmo pensamento - se a mulher se cuida e veste-se de forma elegante, a cor do cabelo não importa. Se for uma pessoa esteticamente desfavorecida ou mal arrumada, o grisalho dá a impressão de desleixo e baixa autoestima.