Como seria voltar a tingir os cabelos?
Recentemente, vi duas grisalhas compartilhando os bastidores de voltarem a colorir os cabelos. Coincidência ou tendência?
Quero escrever este texto tão rápido quanto o processo de fazer a transição do grisalho para o tingido: meia horinha e está pronto. É só passar a tintura no cabelo, esperar uns minutos e lavar — bem diferente da transição do tingido para o grisalho, que pode levar até dois anos.
Mas não tenho vontade de voltar a tingir os cabelos, pelo menos não agora. Nas poucas vezes em que alguém me pergunta se tenho esse desejo, penso quão desconfortável seria passar pela transição de novo, se por acaso quisesse voltar a deixar os cabelos brancos.
Por isso me chamou a atenção o vídeo de uma influenciadora grisalha, Mindy, que tingiu os cabelos de ruivo um mês atrás. Segundo ela contou em seu perfil no Instagram, sua motivação foi acompanhar lado a lado a jornada das mulheres que também estão vivendo esse processo.
Ou seja, um minuto depois de colorir os cabelos, ela entrou de novo na transição para o grisalho. E agora mostra semana a semana como está o crescimento da raiz branca do cabelo.
Fiquei em dúvida sobre o que pensar sobre isso — uma mistura de “que coragem, que estranho, socorro, que legal, nem pensar” —, mas deixei o assunto de lado assim que o meu dedo continuou rolando o feed do Instagram.
Até que, dois dias atrás, apareceu no meu feed mais uma influenciadora grisalha segurando uma caixinha de tintura. Dessa vez, patrocinada pela L’Oréal — e querendo realmente voltar a ser morena. Com mais de cem mil seguidores que a acompanham principalmente pela cor dos cabelos, dá pra imaginar o alvoroço de críticas e elogios que aconteceu nos comentários.
Nos stories, Ana gravou uma série de vídeos contando que já havia recebido proposta de patrocínio algumas vezes durante os quatro anos em que foi grisalha. “As marcas estão loucas!”, ela pensava, enquanto se sentia feliz e maravilhosa com o cabelo branco.
Até que, no final do ano passado, veio a vontade de uma transformação. A proposta da L’Oréal surgiu — e dessa vez a encontrou em um momento diferente.
“Construí esse perfil [no Instagram] em cima de uma ideia”, ela escreveu recentemente neste post. “E se engana quem acha que foi sobre ser grisalha... O que me estimulou sempre foi a minha LIBERDADE DE ESCOLHA.”
Essa expressão, aliás, está no subtítulo do meu livro, “Sem tinta - Conversas sobre cabelos brancos e liberdade de escolha”.
Essa não foi uma invenção minha. Ouvi a expressão pela primeira vez da Elca Rubinstein, responsável pelo argumento do documentário Branco & Prata. Ela contou que o lema — que acabou ficando de fora do filme — era “beleza é liberdade de escolha”. “O objetivo não era dizer que o [cabelo] branco é mais bonito, mas, sim, dar a liberdade de escolha dessa cor”, disse.
Assim como buscamos a liberdade para escolher o branco, não podemos nos esquecer da liberdade para voltar para o tingido. Aliás, como contei no “Sem tinta", torço para que essa escolha seja leve e nos permita mudar de ideia, de gosto e de opinião, sem passar pela temida opinião alheia.
Hoje, se penso em voltar a tingir, sinto um arrepio ao me imaginar retocando a raiz a cada quinze dias — e ainda por cima estando infeliz com o resultado da tintura. Mas como saber qual será o meu desejo amanhã? Nossas certezas mudam, o que não significa que estou insinuando que amanhã vou tingir.
Mas e se eu quisesse? Como eu mesma reagiria? E as pessoas à minha volta?
Um beijo,
Camila.
Para admirar
Essa é a Anastasia Pro, que parou de tingir o cabelo em março de 2020, mesma época que eu. Ela é arquiteta, mora na Itália, mas desconfio que seja russa. Faz quase dois anos que não atualiza o perfil no Instagram, então fiquei aqui imaginando se ela ainda está grisalha — ou já voltou a tingir.
Para pensar
“…toda decisão é baseada em duas coisas: medo e amor. A terapia luta para ensinar como diferenciar um do outro.” — Lori Gottlieb, em seu livro “Talvez você deva conversar com alguém”.